Paulatinamente Special Edition: Olímpiadas do Quebra-Cabeça
Spoiler: FIQUEI EM QUINTO LUGAR!
Quem me conhece e me acompanha no Instagram sabe que sou doida por quebra-cabeças e que finalmente encontrei um espaço para exercer esse hobby: as Olimpíadas do Quebra-Cabeça, organizada pela Associação do Quebra-Cabeça, e que aconteceu entre fevereiro e março. A Associação do QC, encabeçada por Edneia Silveira, organiza eventos regulares, tanto presenciais quanto on-line, para os amantes desse passatempo. Pois bem, participei do meu primeiro evento para me testar e amei! Tanto que considero me tornar sócia para participar com regularidade de outros eventos quebracabecísticos.
Bom, o que concerne essas Olimpíadas? Ao contrário do que o nome pode indicar, não é uma competição internacional, mas nacional. Os inscritos recebiam um pacote em sua casa com vários quebra-cabeças: um de 50 peças, outro de 100, 150, 200, 300 e 500 peças. Os participantes tinham uma semana para montar o quebra-cabeça quantas vezes quisessem. Era preciso que a montagem fosse cronometrada e gravada. Depois, tinha que enviar em um Google Forms uma foto com o tempo do cronômetro e o quebra-cabeça pronto. Era recomendável também que a montagem fosse gravada em time-lapse caso a organização pedisse o envio do vídeo para conferência do tempo. Isso para os QCs (abreviação que os praticantes usam para falar desse amado hobby) de 50 a 300 peças; o de 500, foi montado ao vivo na final.
Um grupo de zap foi criado. Havia duas categorias: iniciantes e avançados. Os iniciantes eram os marinheiros de primeira viagem — meu caso — e teve mais de 100 inscrições! Os avançados eram em número menor. Ambos receberam os mesmos QCs. Nesse grupo, descobri que existem vários tipos de competição, eventos e encontros para quem gosta de montar peças. Tem os QCs-surpresa, em que as pessoas abrem o QC na hora, sem ter tido tempo de treinar, e precisam montar em menor tempo. Tem os QCs viajantes, em que um grupo compra um QC, que é enviado na casa de cada pessoa do grupo após a sua montagem. Os campeonatos das estações, que você monta um QC e posta no seu perfil do Instagram. As 8 Horas de Loucura, em que equipes montam QCs por oito horas seguidas. As competições em duplas e equipes. Os leilões on-line de QC. Tem os influencers de QCs, as grandes celebridades do meio e o projeto da Edneia em criar o Museu do QC… enfim, todo um mundo muito maior do que eu imaginava sentada solitariamente em casa, montando cenas aleatórias ou pinturas de grandes mestres da arte enquanto conversava comigo mesma, ouvia música, podcasts e audiolivros, ou sendo interrompida por pensamentos intrusivos.
Me inscrevi nesse evento justamente para me testar, pra ver se eu conseguia montar QCs de modo rápido, porque eu nunca fui de cronometrar. QC era o momento que eu dava uma relaxada na cabeça, não pensava em nada ou era o momento de eu sentir que eu controlava alguma coisa na minha vida. Por isso, levei a sério. Eu posso ser competitiva, ainda mais em algo que eu achava ser um talento meu, ainda que “inútil”. Pois bem, eu treinei. Pegava os tempos dos integrantes do grupo de zap para me basear e, com isso, fui aprendendo a criar estratégias pras montagens e entender quando eu ficava mais eficiente. Mas vamos por partes:
1ª etapa: 50 peças - Paris
Primeira dica: tenha uma mesa com espaço para montar o QC. Usei o computador como cronômetro, mas dá pra comprar cronômetros baratinhos na internet. Pra gravar, coloquei o celular num tripé e coloquei de lado, em um ângulo que pegava o cronômetro e a área que montei o QC. Não sei quantas vezes montei esse QC pra chegar nesse tempo. Eu começava sempre com um tempo bem alto e diminuía aos poucos - ou seja, serei terrível em QCs-surpresa. Não achei esse QC tão difícil, montava mesmo a partir da torre, do céu, das bordas e, por último, a cidade - a média era de 3 minutos, essa foi a única vez que consegui chegar nos 2 min. As peças em si não eram de grande qualidade, eram feitas de papel, então, depois de muito montar, elas não encaixavam muito bem e saíam do encaixe. Outro detalhe importante: antes de começar a montar, o QC tinha que estar desmontado dentro do saquinho e dentro da caixa. O que eu mais odiava fazer era desmontar o QC, colocar as peças no saquinho e guardar na caixa tudo de novo - dava a maior preguiça. Fiquei em 6º lugar. Aqui, o videozinho que gravei:
2ª etapa: 100 peças - Índia
Outra dica na hora do treino é sempre deixar uma água do lado. E, como tinha muito pernilongo, deixava a raquete do lado pra tirar essas distrações voadoras. Também estava muito quente naquelas semanas, então tinha um ventilador do lado pra ajudar a resfriar o corpo. As peças desse também eram de papel, e foi uma das que mais treinei pois chegou um momento que as peças não encaixavam mais e daí, desencanei de tentar diminuir o tempo, que ficou numa média de 7, 8 min. A pegadinha desse era a confusão entre as peças do próprio Taj Mahal e do seu reflexo. A partir daqui, o fato de montar muitas vezes seguidas causava efeitos físicos adversos, como dor nas costas, no pescoço e nos ombros de ficar tanto tempo sentada na mesma posição tensa montando e desmontando pecinhas. Fiquei em 6º lugar.
3ª etapa: 150 peças - Japão
Esse QC foi uma delícia de montar porque as peças eram de qualidade melhor, mais duras, de madeira. E eu amei o desenho. Era um QC mais alongados dos lados, então me atrapalhei um pouco nessas dimensões novas. Percebi que pra montar eu nunca pensava no quadro geral, eu me atinha aos detalhes de cor e forma da peça, e depois de tanto montar acabava decorando a localização das peças. Nessa etapa fiquei em 5º, se não me engano. Pra próxima etapa, havia um número de pessoas eliminadas, e o ranking era feito através de uma médica ponderada de tempo de montagem junto ao número das peças. Acho que a minha média ficou 13,3 (13 peças por minuto), não lembro direito. Na classificação geral, fiquei em 6º.
4ª etapa: 200 peças - Turquia
Confesso que mal me lembro desse QC. As peças voltaram a ser mais moles, então perdi um pouco a empolgação pra montar. Lembro que montei algumas vezes, mas não me empenhei demais nele. Fiquei em 6º lugar de novo.
5ª etapa: 300 peças - Austrália
Aqui o bicho começou a pegar. O tempo de montar um QC de 300 peças é bem mais demorado, obviamente, então montar repetidamente uma vez atrás da outra, o que em geral fazia o tempo abaixar, não funcionava direito para mim. A estratégia nesse foi montar o céu e o parque de diversões, seguidos da ponte, dos prédios e do mar. Mas as peças voltaram a ficar mais duras, então era bem mais prazeroso montar esse QC do que o da Turquia. Fiquei em 5º ou 6º lugar, não lembro, as diferenças entre o quarto e o sétimo, oitavo lugares eram de décimos de segundo. Em geral, eu ouvia podcasts ou vídeos do YouTube nos treinos, o que me distraía um pouco.
6ª etapa: 500 peças - Portugal
Pra essa etapa, foram classificadas 50 pessoas e, olha, esse QC deu um banho em todo mundo. As peças eram duras e de qualidade, mas eram menores que as outras, e, olha, fez a gente suar. As cores eram muito parecidas, algumas peças encaixavam facilmente em lugares errados, o céu era um tormento. A primeira vez que montei deu 2h20. Depois caindo pra 1h45, 1h35, 1h15… Não estava satisfeita, queria abaixar pra menos de um hora. Depois, a média foi pra 1h09. A final seria ao vivo e não queria fazer feio, queria manter minha média e ficar em quinto, sexto lugar.
E como o QC é enorme e demorado, não dava pra ficar montando e desmontando muito tempo seguido. O próprio não aguentava e pedia arrego. Montei ao menos uma vez ao longo da semana, até às 9h30 do domingo, horário da grande final. Montei duas vezes seguida na sexta-feira: a primeira foi na média, 1h09; a segunda, foi a primeira vez que baixou pra 56min; empolgada, tentei uma terceira, e fiz em 1h20.
Entendi: a primeira era pra aquecer, a segunda ia ser melhor, e a terceira ia ser a pior porque eu já estava cansada. Sábado à noite, antes de dormir, fiz mais uma vez. No domingo, acordei às 7h30 e montei o QC em 1h15, já estava aquecida pra montagem! Estratégia: começava pela torre amarela e vermelha e pelas áreas verdes, depois as partes azuis, inclusive o céu, que eu montava primeiro a do lado direito, seguida das restantes, deixando as bordas do céu pro final porque eu montava todas erradas e perdia muito tempo corrigindo o local correto das peças.
Pra quem quiser ver (dormir ou sentir tédio), dá ter acesso ao vídeo da final no YouTube aqui. Dada a largada, rola aquela pressão. Tentei emplacar a estratégia de não me demorar demais em peças que não estou conseguindo encaixar - a gente perde muito tempo insistindo no erro e perde segundos preciosos. A regra era que quem terminasse tinha que ligar o som, falar o nome e dizer TERMINEI. O cronômetro estava na tela da Edneia Silveira, a grande organizadora desses campeonatos. Os primeiros lugares seguiram o esperado: a campeã terminou com 40min (!!!!), chegando bem perto da campeã da categoria avançado, que ficou em inacreditáveis 35min (!!!!!!!!).
Alguns minutos depois, o segundo e o terceiro lugar dos iniciantes terminaram; eu estava quase terminando, quando uma participante terminou em quarto lugar, seguida por mim, em questões de décimos de segundos. Finalizei com 56min47, meu recorde pessoal! A novidade dessa categoria é que as 5 primeiras colocadas (sim, no feminino, as mulheres dominam esses campeonatos de QCs) vão ganhar prêmios, dentre os quais um QC!
Feliz demais com meu desempenho e espero participar de mais eventos como esse no futuro.
Paulalendo
Pra quem curte QCs e jogos, recomendo a leitura de A vida modo de usar, do francês Georges Perec, escrito segundo os preceitos do OuLiPo, grupo formado por Perec e Italo Calvino, entre outros, que propunha criar literatura a partir de regras matemáticas. Aqui, a narrativa é toda marcada pela montagem de um QC a partir dos moradores de um prédio em Paris. Sim, precisa de um pouco de paciência, da mesma forma que montar um QC.
Paulavendo
O simpático filme O Quebra-Cabeça (2018), de Marc Turtletaub, me abriu para o mundo das competições de QC. Nele, uma mãe e dona de casa entediada, interpretada pela sempre ótima Kelly MacDonald, ganha uma nova vida ao descobrir o seu talento para montar QCs. Para participar de uma competição, se junta a um inventor recluso (Irfan Khan), para treinar juntos e competir num evento de QCs em duplas. Não é um longa que vai mudar sua vida, mas traz dramas humanos usando o QC como o fator que vai despertar a protagonista para o seu próprio valor. Só senti falta de dissertarem mais sobre estratégias de montagem. Disponível no Sony One.
Pauladentro
Por falar em hobbies, vou valar sobre vagabundagem e descanso como resistência em tempos de capitalismo no Sesc 14 Bis, dia 9, quarta, às 19h, na livraria, junto com Steffany Dias, tradutora do livro Descansar é Resistir, de Tricia Hersey, com mediação de Luara Calvi Anic.
Querem descobrir um pouco mais sobre as minhas outras obsessões? Aulão online sobre “Mulheres Viajantes na Literatura” na Casa Inventada. Vou contar histórias de mulheres incríveis que provavelmente vocês nunca ouviram falar.
Em breve, o retorno do curso Introdução à Ásia através da Literatura, parceria com a Livraria Aigo. Mas dessa vez vai ser ON-LINE! Fiquem ligades!
Eu ameeeei essa história de quebra cabeças! Que inusitado!!